O sentido da vida- se é que ela tem algum – é criar desordem. Perpetuar a aleatoriedade que é esta existência. O sentido da alma é encontrar alguma beleza e significado neste caos que é existir. A mente estableçe a ponte entre a vida e a alma, tecendo infinitas teias de relações causa-efeito, quiçá em vão, para uma cadeia aleatória de experiências que se sucedem ad infinitum (e ad nauseam) – sempre com resultados distintos. Pareçemos estar flutuando à deriva, tentando-nos agarar a explicações teológicas ou metafísicas para numa existência perfeitamente aleatória onde a única coisa que podemos tomar como certa é a morte.
Imagina só que aquilo a que chamamos desordem é que é a ordem natural e que a vida não tem sentido nenhum inerente. A nossa mente tem essa teima em ordenar, agrupar, organizar, procura relações e objectivos ou sentidos e porquês para tudo. Porque será?
Sabes é uma questão que me tem atormentado muito nos últimos tempos. De facto é bem possível que a vida não tenha qualquer tipo de sentido inerente – tirando auto perpetuar-se e sobreviver. Talvez seja por isso que nunca ninguém conseguiu descobrir o seu significado. Mas o nosso cérebro teima em tentar encontrar um explicações, padrões, sentidos para a vida e para o mundo. Porque será…não sei. O facto é que enquanto seres humanos temos um profundo horror ao vazio, ao incontrolável, à possibilidade de a vida não ser mais que um mero esforço de sobrevivência.
Quanto à tendência para tentar agrupar tudo por padrões. A verdade é que o homem evoluiu num ambiente natural algo ordeiro e padronizado- com a sucessão matemática de dias e noites e estações do ano. E a acções humanas obedeçem todas a uma relacção da causa efeito => a pedra move-se porque eu a chutei. Não é um salto conceptual muito grande explicar o resto dos fenómenos naturais através deste tipo de relações. Primeiramente com divindades que tinham paixões e apetites como os seres humanos e mais tarde através do método científico – com fenómenos observáveis , para os quais formulamos explicações e apartir das quais extrapola-mos para outras situações. Talvez o facto de o homem padronizar e catalogar seja o que lhe permite funcionar no mundo e em sociedade- com as suas limitações como é obvio – mas a verdade é que precisamos de um ambiente extruturado e padronizado para funcionar correctamente. No entanto talvez esta tentativa de ver o mundo tomando-nos a nós homens e aos padrões da nossa vida como medida de todas as coisas nos esteja a impedir de ver a “big picture”
Pois, acredito que sintas isso, pois quando pensamos muito no tema não encontramos resposta e as coisas parecem não fazer sentido da forma como as vemos. Até o exercício não trivial de inventarmos um sentido para vida, nos conduz a um beco. Será que o sentido não será olharmos para nós próprios? A vida corre por nós e fazemos parte dela. Mas o simples facto de sabermos que um dia deixaremos de ser consciência retira-lhe todo o sentido. Seria como aceitarmos que o sentido está muito para alem de nós e somos como um simples grão de areia numa praia, no fundo incaracterístico e desprezível. É muito difícil admitir, mas sempre foi assim, é como uma escada interminável que nunca pára de subir e não se vê o fim, mas cada degrau que escalamos vai sendo arrancado e desaparece no vazio e não há como voltar atrás. É difícil escrutinar o sentido da vida para o degrau, mas sem ele não havia a escada. Será esse o sentido, fazer parte dum sentido maior e que não é possível ver-se? Fica o mistério. No fundo o sentido é isso mesmo, o mistério de nunca saber.